Repúdio
Inúmeras instituições divulgaram notas de repúdio contra a fala de Bia Doria.
A pastoral de rua de São Paulo, representada pelo Padre Júlio Lancellotti, da Arquidiocese de São Paulo, disse que "vê com indignação e perplexidade o vídeo em que a senhora primeira-dama do estado e presidente do Conselho do Fundo Social de São Paulo declara que a população de rua 'gosta' de estar na rua e que se acomoda por receber alimentos e roupas."
"Opiniões desta natureza reforçam a violência, discriminação e preconceito que diariamente fere e humilha os que são relegados ao abandono e omissão do Estado. Tais declarações ferem a dignidade humana e são mais uma agressão aos que nas ruas não tem como se defender", diz a nota.
Levi Araujo, pastor batista da Comunidade Caverna, disse que o vídeo é "repugnante" e "revela a feiura de alma e a ignorância vergonhosa da maioria abastada classe social brasileira."
"Esses meritocratas realmente acreditam nessa lógica tosca e inculta. Nada sabem sobre as pessoas em situação de rua, as condições que as levaram a esse estado e, principalmente, como a compreensão dessa realidade é complexa e mais profunda."
"Ultimamente, todo dia é dia de ficar indignado, hoje essas madames, representantes da maioria de sua classe, ofenderam os meus irmãos e irmãs de rua, desrespeitaram os profissionais e amigos que entregam a vida diariamente para servir essas pessoas e, principalmente, a Jesus de Nazaré, a quem sigo e sirvo. Quando estou respeitando a dignidade dessas pessoas, buscando políticas públicas abalizadas pela ciência, enfim, quando eu as sirvo com amor eu estou servindo ao próprio Jesus Cristo."
Ariel de Castro Alves, advogado e conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe), disse em nota que a decisão de entregar ou não comida, roupas e dinheiro para as pessoas que estão nas ruas pedindo é individual e pessoal e que não cabe ao estado interferir.
“O estado (governos) precisa oferecer vários serviços públicos, de saúde mental, moradia, geração de renda, qualificação para o mercado de trabalho, educação, assistência social, inclusive albergues e serviços de acolhimento que recebam as pessoas com seus animais (cães e gatos) e bens pessoais, que incluem os carrinhos dos catadores de materiais recicláveis. Essas ações evitariam que tantas pessoas estivessem nas ruas."
"Agora com a pandemia e aumento do desemprego e da falta de renda o número de pessoas nas ruas tem aumentado e o estado não tem tomado as ações necessárias, como convênios com hotéis de baixo custo para manter as pessoas hospedadas. Se não fossem as ONGs, igrejas e iniciativas individuais, com o fechamento dos comércios na quarentena, as pessoas em situação de rua estariam passando fome.”
Nota completa
Leia abaixo a nota completa enviada ao G1 pela Secretaria Especial de Comunicação do governo estadual.
"Em relação aos comentários sobre pessoas em situação de rua, a presidente do Conselho do Fundo Social de São Paulo, Bia Doria, esclarece que sua fala foi tirada do contexto e enfatiza que a sua intenção é que as pessoas em situação de rua tenham acesso aos abrigos públicos, onde terão alimentação de qualidade dentro das normas de higiene da Vigilância Sanitária, e uma condição de vida mais digna. Ou mesmo nos Restaurantes Bom Prato, que recentemente decretaram gratuidade aos moradores de rua.
À frente do Fundo Social de Solidariedade, Bia Doria desenvolve uma série de ações em benefício dos mais necessitados, participando ativamente na execução das ações em campo, como a campanha Inverno Solidário, que já distribuiu milhares de cobertores, e a distribuição de cestas básicas em comunidades carentes."